sexta-feira, julho 01, 2005

Confissões de Ontem.

Posso dizer agora, mesmo sendo hoje, que não sabia se estava vivo ou morto ontem, ou antes disso, pelo simples fato de não conhecer ninguém. Pensava que qualquer dúvida atrairia apenas mais perguntas, então a ignorância era meu escudo contra a redundância. Não gostava de ser um Ser Humano, mas não conhecia nada melhor, o que era mais um motivo para não formar uma opinião sobre o assunto. querer ter alguma opinião significaria ter que pesquisar outras coisas, coisas demais. Voltava muito atrás para tentar ser coerente, mas não dava. Acabei voltando, e então não gostava e nem desgostava de ser um Ser Humano. Tentei voltar atrás mais uma vez e gostar, mas era impossível. Eu mesmo me sabotava e nunca saia do zero. Sentado à mesa, quis sair de casa e andar num trem. Me perguntei por que a idéia do trem sempre me perseguia. Não procurei uma resposta, pois todas as respostas atrairiam mais perguntas e no fim, ou se sabia de tudo, ou não sabia de nada. Tomei um gole da xícara de café e suspirei. Café era amargo, todo café era amargo. Mas por que tomava? Eu não gostava de amargo! Mas por que não gostava de amargo? Finalmente a eterna rotina de perguntas começara, e logo pela manhã. Seria porque alguém, em algum lugar da minha vida, me disse que era ruim? — Impossível! Não conheço ninguém. E eu não tenho capacidade para decidir sobre gostos, porque gostos são relativos a experiências. — Eu tive experiências ruins com cafés amargos? — Impossível! Nunca tive experiências alguma. — Seria esse o motivo?! Eu, na verdade, não queria saber estas respostas, mas sou fraco demais para ignora-las. E como todo infeliz curioso, me torturei mais buscando o sossego que sabia que não viria através de respostas. Quer saber? Eu não. Hoje é outro dia.

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