quinta-feira, janeiro 14, 2010

Diálogo da Saudade e da Solidão

- Vais me sentir, Saudade.
- Talvez o sinta, quem sabe...
- Eu o sei, e quem não sabe?
- Quem não sabe, não se sente de verdade.

- Tens razão, mesmo não tendo.
- A mim, não te compreendo.
- Compreendes sim, sou teu medo.
- Medo de quê, de degredo?

- Disto e de todo o resto.
- Sabes que a isto não me presto.
- Ora, te negas a me ver no que em ti existe?
- Não te nego, mas só na minha pureza me viste.

- Tua pureza é como um teto sem chão.
- Queres dizer que sem a ti sou em vão?!
- Isto mesmo, agora me diga quem tens no coração.
- Sendo ele um só, só poderia ser a ti, Solidão.

domingo, janeiro 03, 2010

Poema de Conselho do Poeta

Tem um momento na vida da gente
Que é preciso agarrar com unhas e dentes
Não importando muito o dia de amanhã.

Seja esse dia o próximo, ou o muito longe,
A idéia principal é não bancar o monge
E fazer de conta que o que é para ser, será.

O que nos é aguardado é apenas potência
Não sendo certo nem incerto a eloquência
De nossas prósperas promessas de união.

Teríamos antes que nos guiar nesta estrada
Por um caminho à pessoa amada,
Ou então seguirmos sem rumo nem direção.

Com o silêncio, quem sabe, um dia
Diríamos ao sabor do vento a nossa agonia
De que não há pernas que sustentem a indeterminação.

Seja belo ou seja impuro
O amor não pode ficar sobre o muro
Aguardando o tapete do destino.

Não deixe que a sorte guie o seu caminho
Seja ele torto ou ajeitadinho
Porque de fato já não existe o grande tecelão.

Fato este que hoje já não importa tanto
Quanto os versos que agora canto
Com a voz um tanto mais embargada.