sábado, novembro 20, 2010

O Exílio dos Gatos

Naquela tropical escuridão
Teus olhos brilharam mais que os meus
E desta rápida constelação
Consumou-se um amor ateu.

Que proibido pelas areias do destino
Foi trancafiado pelas chaves de um menino
Que sequer tinha intensão - ou mesmo a exatidão -
De mostrar no seu molho
Qual das chaves lhe abria o olho.

Cegos pel'areia do infortúnio
Os dois amantes perderam o rumo
Andando a esmo pelas dunas do deserto
Ainda se encontravam em tempo certo:
Ano a ano, à beira das fontes
Os dois olhavam-se separados em seus montes.

(Em homenagem a Felipe Haddock e Cleópatra)

quinta-feira, setembro 16, 2010

Brasília

Hoje faz quarenta e três dias que não chove.
Hoje pingou uma gota em minha roupa.
Não era chuva, não era choro.
Era só uma garota.

terça-feira, julho 13, 2010

Bem me quer, mal me quer

Se um dia não souber como me chamar
Me chame de vendaval
Se um dia não quiser mais me ligar
Não se preocupe em me deixar mal
Concentre-se em você mesmo
Seja egoísta como manda o figurino
Faça o que quiser
Brinque de bem me quer, mal me quer

quinta-feira, julho 08, 2010

conta em conta.

Querem-me equacionar definitivamente,
Resolver-me fórmula abaixo.
Logo eu, que sempre estendi o braço
Quando caiam-vos as almas ao chão.

Forçar-me com mil colheres
Não é coisa digna de duas mulheres.
Não sabem que dentre todas que há no mundo,
O homem fiel é incapaz de escolher a fundo?

Matemática contrária do infiel,
Que de todas as opções postas,
Logo aponta o dedo em riste:

Escolhe pelo número positivo
Antes que de um negativo
Resulte a conta triste.

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Diálogo da Saudade e da Solidão

- Vais me sentir, Saudade.
- Talvez o sinta, quem sabe...
- Eu o sei, e quem não sabe?
- Quem não sabe, não se sente de verdade.

- Tens razão, mesmo não tendo.
- A mim, não te compreendo.
- Compreendes sim, sou teu medo.
- Medo de quê, de degredo?

- Disto e de todo o resto.
- Sabes que a isto não me presto.
- Ora, te negas a me ver no que em ti existe?
- Não te nego, mas só na minha pureza me viste.

- Tua pureza é como um teto sem chão.
- Queres dizer que sem a ti sou em vão?!
- Isto mesmo, agora me diga quem tens no coração.
- Sendo ele um só, só poderia ser a ti, Solidão.

domingo, janeiro 03, 2010

Poema de Conselho do Poeta

Tem um momento na vida da gente
Que é preciso agarrar com unhas e dentes
Não importando muito o dia de amanhã.

Seja esse dia o próximo, ou o muito longe,
A idéia principal é não bancar o monge
E fazer de conta que o que é para ser, será.

O que nos é aguardado é apenas potência
Não sendo certo nem incerto a eloquência
De nossas prósperas promessas de união.

Teríamos antes que nos guiar nesta estrada
Por um caminho à pessoa amada,
Ou então seguirmos sem rumo nem direção.

Com o silêncio, quem sabe, um dia
Diríamos ao sabor do vento a nossa agonia
De que não há pernas que sustentem a indeterminação.

Seja belo ou seja impuro
O amor não pode ficar sobre o muro
Aguardando o tapete do destino.

Não deixe que a sorte guie o seu caminho
Seja ele torto ou ajeitadinho
Porque de fato já não existe o grande tecelão.

Fato este que hoje já não importa tanto
Quanto os versos que agora canto
Com a voz um tanto mais embargada.