Almoçamos na Cidade Baixa como de costume. o Sol brilhava alto ao meio dia e não tínhamos vontade de sentar ao seu acaso. Sentamos um em frente ao outro, dentro do restaurante, e o sorriso existencial dela alegrava a cada instante a minha própria existência. A conversa continuou banal, como sempre fora, mas de uma banalidade perfeita, que trazia a esperança de uma vida simples e complexa ao mesmo tempo, enquanto se discute a origem da vida até seu infortúnio fim.
Enquanto o assunto se encerrou devido a um comentário meu a respeito da imprevisibilidade da mundo e a nossa faculdade de prometer - que fez com que ela parasse por um instante para pensar - enfim, mudou de assunto como se não houvesse nenhuma importância isso.
- Não me disseste ainda o 10º motivo de me odiares - seu sotaque do norte me alegrava devido a perfeição da conjugação verbal e do jeito doce, que nunca havia visto por essas bandas do sul.
Parei um instante, com o garfo ainda na boca e levantei uma sobrancelha.
- o quê?! - perguntei, pois não havia motivo para odiá-la, muito menos 10 deles, ainda mais em ordem. incrível!
Pensei um pouco mais, afinal, talvez seria esse o momento certo para dizer o que realmente me incomodava. continuei olhando fixamente com cara de interrogação.
- é, vamos, me diga - disse ela, com um meio sorriso na boca - me diga o que é, me dê um motivo para mudar minha vida...
Era esse o momento mesmo, pensei. Vou dizer exatamente aquilo que pensei a respeito: o que me incomoda é o fato de tu teres um namorado e ele não ser eu. Construí minha intenção nessa direção, mordi os lábios e quando ia abrir a boca, alguma coisa a bloqueou. Tentei uma segunda vez e nada. Uma terceira e a mesma coisa. Levantei novamente a sobrancelha e ela tremeu por um instante: nada. O tempo passou em silêncio, e para o meu constrangimento, ela me olhou com o rosto em desaprovação.
- Não vais dizer?
Reuni toda minha coragem, esse era o momento de glória, de satisfação, o momento que teria para contar aos nossos filhos, netos, bisnetos, tataranetos - toda cadeia de descendentes, todas as gerações vindouras deste momento belo e único. Concentrei minha coragem e foi-se: baixei minha cabeça para o prato e de lá coloquei mais uma garfada na boca - não que estivesse com fome, mas para dar um motivo tolo de explicação do bloqueio estúpido que me sacudia o interior da cabeça: covarde, era isso que eu era, covarde.
O silêncio se apertou na tarde quente.
- ah, mas tu vais falar hoje!
Droga, pensei. Mais pressão...
Eu sorri em retorno, como pedindo desculpas por estar bloqueado. Balancei os braços em dúvida, meio desesperado. Era totalmente imprevisível aquilo. Era tão imprevisível que não podia nem avisar do bloqueio sem parecer ridículo. Terminamos o almoço conversando sobre a faculdade de prometer e não cumprir. O assunto só continuava quando não era relevante para nada. Levantamos, seguimos ao sol e, num dado momento, passei o braço sobre seu ombro. Ela deixou envolver e não disse nada. Coloquei meu rosto perto do dela e sussurrei: vai dar tudo certo, não se preocupe. Ela continuou com a mesma expressão por um tempo, depois sorriu.
- Esses são os brechós da Cidade Baixa... Aqui pode-se comprar casacos por 5 reais, como esse aqui que estou usando...
- lindo casaco - falei, mas sem esperança de que um dia fosse comprar qualquer destes casacos aí.
Quanto tempo duraria para começar a caminhar não sabia; o primeiro passo sempre foi o mais dolorido, o mais difícil, o mais longo deles. Depois é pura rotina, puro desespero, pura alegria. Continuei ao seu lado até que o sol daquela tarde baixou no horizonte, e mesmo depois disto, ainda continuava lá, mas sem dizer palavra alguma. Nem mesmo um eu te amo.
Enquanto o assunto se encerrou devido a um comentário meu a respeito da imprevisibilidade da mundo e a nossa faculdade de prometer - que fez com que ela parasse por um instante para pensar - enfim, mudou de assunto como se não houvesse nenhuma importância isso.
- Não me disseste ainda o 10º motivo de me odiares - seu sotaque do norte me alegrava devido a perfeição da conjugação verbal e do jeito doce, que nunca havia visto por essas bandas do sul.
Parei um instante, com o garfo ainda na boca e levantei uma sobrancelha.
- o quê?! - perguntei, pois não havia motivo para odiá-la, muito menos 10 deles, ainda mais em ordem. incrível!
Pensei um pouco mais, afinal, talvez seria esse o momento certo para dizer o que realmente me incomodava. continuei olhando fixamente com cara de interrogação.
- é, vamos, me diga - disse ela, com um meio sorriso na boca - me diga o que é, me dê um motivo para mudar minha vida...
Era esse o momento mesmo, pensei. Vou dizer exatamente aquilo que pensei a respeito: o que me incomoda é o fato de tu teres um namorado e ele não ser eu. Construí minha intenção nessa direção, mordi os lábios e quando ia abrir a boca, alguma coisa a bloqueou. Tentei uma segunda vez e nada. Uma terceira e a mesma coisa. Levantei novamente a sobrancelha e ela tremeu por um instante: nada. O tempo passou em silêncio, e para o meu constrangimento, ela me olhou com o rosto em desaprovação.
- Não vais dizer?
Reuni toda minha coragem, esse era o momento de glória, de satisfação, o momento que teria para contar aos nossos filhos, netos, bisnetos, tataranetos - toda cadeia de descendentes, todas as gerações vindouras deste momento belo e único. Concentrei minha coragem e foi-se: baixei minha cabeça para o prato e de lá coloquei mais uma garfada na boca - não que estivesse com fome, mas para dar um motivo tolo de explicação do bloqueio estúpido que me sacudia o interior da cabeça: covarde, era isso que eu era, covarde.
O silêncio se apertou na tarde quente.
- ah, mas tu vais falar hoje!
Droga, pensei. Mais pressão...
Eu sorri em retorno, como pedindo desculpas por estar bloqueado. Balancei os braços em dúvida, meio desesperado. Era totalmente imprevisível aquilo. Era tão imprevisível que não podia nem avisar do bloqueio sem parecer ridículo. Terminamos o almoço conversando sobre a faculdade de prometer e não cumprir. O assunto só continuava quando não era relevante para nada. Levantamos, seguimos ao sol e, num dado momento, passei o braço sobre seu ombro. Ela deixou envolver e não disse nada. Coloquei meu rosto perto do dela e sussurrei: vai dar tudo certo, não se preocupe. Ela continuou com a mesma expressão por um tempo, depois sorriu.
- Esses são os brechós da Cidade Baixa... Aqui pode-se comprar casacos por 5 reais, como esse aqui que estou usando...
- lindo casaco - falei, mas sem esperança de que um dia fosse comprar qualquer destes casacos aí.
Quanto tempo duraria para começar a caminhar não sabia; o primeiro passo sempre foi o mais dolorido, o mais difícil, o mais longo deles. Depois é pura rotina, puro desespero, pura alegria. Continuei ao seu lado até que o sol daquela tarde baixou no horizonte, e mesmo depois disto, ainda continuava lá, mas sem dizer palavra alguma. Nem mesmo um eu te amo.
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