segunda-feira, janeiro 22, 2007

A Vida no Propugnáculo

O rei obeso, grosso como um carvalho, ergueu com muita dificuldade (e, no fundo, um pouco de manha) seu enorme dedo, apontando apra um mendigo.

- Cavalariço! Me diga... por qeu aquele homem está azul?

- Por falta de alimento, Vossa Alteza!

- Está dizendo que não alimento meu reino?

- Sim.

- Hmm.. admiro sua sinceridade! Ganhará um prêmio.

- Mesmo?

- Claro que não! Soldados, enforquem-no. Não! Melhor, cortem-lhe a cabeça, e depois o enforquem.

- Mas senhor, isso seria um desperdício de mortes... Basta escolher uma das execuções!

- Até que és útil, para um condenado. Qual das mortes recomenda? Te darei essa chance!

- Desculpe-me se não pular de alegria, Majestade. Veja, as duas alternativas são ótimas, tem seus méritos! Mas... Se me cortarem a cabeça, como irão me enforcar?

- Sinto-me triste por ter de matá-lo, pois tens lautos conhecimentos no campo das execuções.

- Obrigado, Majestade. Mas.. então por que não me deixa vivo?

- Vês, não posso! Aí o que pensarão de mim? Que não tenho pulso, sou um fraco! Soldado, coce meus testículos. Isso... não, não, mais acima.

- Vossa Alteza, noto que seus soldados fazem tudo pelo senhor.

- Prossiga.

- E... um Rei deve ter uma postura
auto-suficiente, não precisa de homens para isso e aquilo! Um Rei deve agir como tal e mostrar seu poder incorporado.

- Aonde quer chegar homem?

- Acho que deves dispensar esses homens. Mande-os para suas famílias! Deixe-os descansar...

- Por que eu faria isso? Eles são pagos para fazer isso.

- Na verdade não, Senhor! - disse um dos servos.

- Mas hoje tiraram o dia pra me desafiar! Loucura! Você, junte-se ao cavalariço! Morrerão os dois.

- E quem comandará a carruagem?

- Você! Escudeiro! venha cá e...

- Ma io non sei pilota questa carruage ãhn?

- Demente! Morrerá também!

- Vocês ai adiante. arqueiros! Venham cá e comandem essa carruagem.

- Não podemos ouvi-lo daqui de cima, Majestade!

- Ahh! Morrerão todos!

Todos; os arqueiros, o cavalariço, o soldado e seu escudeiro, até mesmo o carrasco e mais dois servos formaram uma fila. Nisso, o Rei se ergueu, provocando intermitentes ondas em sua carapaça de óleo, e ordenou:

- Agora, decidirei quem será o carrasco.

Tentou, em vão, erguer o machado do chão, suou, peidou, saltitou.

- Pensei muito e decidi não erguer o machado. Faremos da seguinte maneira: vocês, arqueiros, atirem para o alto e se joguem na frente das flechas.

Os dois arqueiros atiraram para o alto, mas as flechas retornaram inofensivas, muito devagares.

Em seguida, a mando do Rei, o carrasco correu em direção ao machado, mas sabiamente desviou um pouco antes, apenas fazendo a sua barba do lado direito.

O cavalariço bateu em ums dos cavalos para que fosse atingido pelo coice, mas o cavalo apenas disparou, levando a carruagem.

O escudeiro tentou se enforcar, mas era deveras gordinho e apenas quebrou o galho da árvore.

O cavaleiro pegou sua faquinha e no momento em que ia cortar sua garganta, foi salvo por seu escudeiro.

Os dois servos correram u mem direção ao outro para cabeçearem até a morte, como carneiros do Nepal, mas no último momento passaram um pelo outro, dando os braços, e começaram a dançar.

o Rei se ergueu novamente.

- CHEGA! Me dá essa espada aqui moleque, é assim que se Glllhhhh.....

E todos viveram felizes para sempre, até que o escorbuto, o béri-béri e a Peste-Negra os dizimou.

(Filipe Bastos)

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