terça-feira, janeiro 30, 2007

Assim Falou João Ventura

João Ventura sentou naquela cadeira ali. Aquela mesma. Sentou, chamou o garçom, pediu uma cerveja e quando o cidadão se afastou, suspirou.
Eu sei disso por que estou sentado deste lado do bar, tomando a minha e escolhendo qual destas raparigas levaria para casa. É tudo figura de linguagem, eu sei. Mas uma linguagem bonita, reconheço.
O caso é que João Ventura está decididamente ali sentado na cadeira. Suspirou uma vez só, depois ficou olhando a gota de água sob a mesa. Eu juro que posso ouvir seus pensamentos, mas nao é verdade. Só posso imaginá-los. Imaginá-los ou lembrá-los. Como queiram, oh leitores...!
É um daqueles momentos onde se pode pensar o que quiser, pois não se deve pensar em nada, em absoluto. Eu fico imaginando esse tempo; eu ali, sentado; eu aqui, sentado; elas ali, sentadas. Lindo! Mas em nada para pensar. É exatamente um destes momentos. Onde se pode pensar em tudo, absolutamente tudo, e não pensar em nada.
Espere! Sim! Ele está pensando! Me lembro desta ruguinha na testa! Que saudade dela! Sim! É a ruguinha do pensamento! No que estará pensando João?! Pergunto como se fosse difícil imaginar. Ana.
Pois é Ana.
"Acho que sei exatamente o que isso significa", pensou João, "Significa que encontrei o amor... Significa que é assim que se descobre o amor! É quando no momento em que se pode pensar em tudo e em nada... Quando sem querer (em absoluto) pensar, e mesmo assim, o pensamento nela acontece... Nela e em mais ninguém! Se foge, mas não se escapa... É o fim da liberdade, o inicio dela... Quem sabe...?! São mais pensamentos inacabados que certezas triunfantes...? Mais frases de efeito que respostas objetivas...?"
Pronto. Assim falou João Ventura. Assim está falado. Se não o Conhecesse bem, diria que está mesmo apaixonado. Não caio nessa, não. Sou uma raposa velha mesmo. Se não soubesse o final desta história, não seria a minha.
Pego a minha cerveja, levanto e vejo a cena: o garçom parado com a cerveja na mão; João Ventura é somente um vulto pela porta. Eu sorrio, sigo até a mesa das raparigas e proponho um brinde.
Um brinde à inocência.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

A Vida no Propugnáculo

O rei obeso, grosso como um carvalho, ergueu com muita dificuldade (e, no fundo, um pouco de manha) seu enorme dedo, apontando apra um mendigo.

- Cavalariço! Me diga... por qeu aquele homem está azul?

- Por falta de alimento, Vossa Alteza!

- Está dizendo que não alimento meu reino?

- Sim.

- Hmm.. admiro sua sinceridade! Ganhará um prêmio.

- Mesmo?

- Claro que não! Soldados, enforquem-no. Não! Melhor, cortem-lhe a cabeça, e depois o enforquem.

- Mas senhor, isso seria um desperdício de mortes... Basta escolher uma das execuções!

- Até que és útil, para um condenado. Qual das mortes recomenda? Te darei essa chance!

- Desculpe-me se não pular de alegria, Majestade. Veja, as duas alternativas são ótimas, tem seus méritos! Mas... Se me cortarem a cabeça, como irão me enforcar?

- Sinto-me triste por ter de matá-lo, pois tens lautos conhecimentos no campo das execuções.

- Obrigado, Majestade. Mas.. então por que não me deixa vivo?

- Vês, não posso! Aí o que pensarão de mim? Que não tenho pulso, sou um fraco! Soldado, coce meus testículos. Isso... não, não, mais acima.

- Vossa Alteza, noto que seus soldados fazem tudo pelo senhor.

- Prossiga.

- E... um Rei deve ter uma postura
auto-suficiente, não precisa de homens para isso e aquilo! Um Rei deve agir como tal e mostrar seu poder incorporado.

- Aonde quer chegar homem?

- Acho que deves dispensar esses homens. Mande-os para suas famílias! Deixe-os descansar...

- Por que eu faria isso? Eles são pagos para fazer isso.

- Na verdade não, Senhor! - disse um dos servos.

- Mas hoje tiraram o dia pra me desafiar! Loucura! Você, junte-se ao cavalariço! Morrerão os dois.

- E quem comandará a carruagem?

- Você! Escudeiro! venha cá e...

- Ma io non sei pilota questa carruage ãhn?

- Demente! Morrerá também!

- Vocês ai adiante. arqueiros! Venham cá e comandem essa carruagem.

- Não podemos ouvi-lo daqui de cima, Majestade!

- Ahh! Morrerão todos!

Todos; os arqueiros, o cavalariço, o soldado e seu escudeiro, até mesmo o carrasco e mais dois servos formaram uma fila. Nisso, o Rei se ergueu, provocando intermitentes ondas em sua carapaça de óleo, e ordenou:

- Agora, decidirei quem será o carrasco.

Tentou, em vão, erguer o machado do chão, suou, peidou, saltitou.

- Pensei muito e decidi não erguer o machado. Faremos da seguinte maneira: vocês, arqueiros, atirem para o alto e se joguem na frente das flechas.

Os dois arqueiros atiraram para o alto, mas as flechas retornaram inofensivas, muito devagares.

Em seguida, a mando do Rei, o carrasco correu em direção ao machado, mas sabiamente desviou um pouco antes, apenas fazendo a sua barba do lado direito.

O cavalariço bateu em ums dos cavalos para que fosse atingido pelo coice, mas o cavalo apenas disparou, levando a carruagem.

O escudeiro tentou se enforcar, mas era deveras gordinho e apenas quebrou o galho da árvore.

O cavaleiro pegou sua faquinha e no momento em que ia cortar sua garganta, foi salvo por seu escudeiro.

Os dois servos correram u mem direção ao outro para cabeçearem até a morte, como carneiros do Nepal, mas no último momento passaram um pelo outro, dando os braços, e começaram a dançar.

o Rei se ergueu novamente.

- CHEGA! Me dá essa espada aqui moleque, é assim que se Glllhhhh.....

E todos viveram felizes para sempre, até que o escorbuto, o béri-béri e a Peste-Negra os dizimou.

(Filipe Bastos)

Abra a Janela pra Mim.

Mim não sabia o que falar; tanto que nem sabia falar... eu sei, é a historia errada.
A Verdade é que João Ventura já não sabe quanto tempo faz que dormiu. pobrezito! sim, João Ventura sou eu! Aquele ali dormindo é minha vaga lembrança. Ele não sabe. Acha que temos o mesmo nome por mero acaso. Mas digo isso para evitar perguntas do futuro. O futuro pertence à mim; à nós; à ele, na verdade. eu estou velho. velho e acabado... me resta apenas mais alguns verões. Talvez 5... ou mais. ou menos! (onde foi parar meu velho pessimismo?!)
João Ventura já não acorda devido à ressaca. eu bem que avisei, mas ele insistiu em beber. se eu me lembro bem, essa foi a última vez que botou álcool na boca. Também, pelo que vai sentir amanhã de manhã, leitor, eu teria feito o mesmo... e fiz. desde esse dia não ponho nenhum álcool na boca. Não que eu me lembre de ter posto. Mas também, já nao lembro de mais nada.
Motivo? Você quer motivo para beber?! há! Leitores e "motivos". Parece que nunca bebeu sem motivo. "não"? Santo! ele também não. Ninguém bebe sem motivo. Como posso escrever uma obra "non sense" e ter que explicar tudo!? Se perdeu o motivo da obra! O fato é que João Ventura é corno! é isso! falei! agora chega. Maldita Ana. fazer o que...?