domingo, outubro 02, 2005

Eu nunca quis ser um herói.

Nunca quis ser um herói. Nunca quis salvar ninguém alem de mim. Eu só quis me salvar por instinto, porque pela razão não me salvaria. Dizer que sinto pena, ou ódio pelos outros serem oprimidos, é ser hipócrita. Sentir raiva de quem? Eu nem sei de quem sentir raiva. Quem é o responsável direto pela miséria de alguém? É muito fácil culpar uma outra pessoa e voltar toda a raiva que tenho por mim, ao não ser capaz de resolver o problema sozinho, nela. Não sinto nada, só fiz isso porque quem precisava de ajuda era eu. Não me importo, de verdade, com o que vai acontecer com o outro. É contra a natureza humana querer salvar mais alguma pele além da sua própria. “As coisas são assim mesmo, são coisas que acontecem...”; Eu finjo sentir pena por eles para poder colocar algum sentido na minha vida, e me enganar ao achar que ela não vai passar em vão. Se esses problemas fossem resolvíveis, com o que nos preocuparíamos depois? Se o mundo fosse perfeito, se todos os seus problemas fossem resolvidos, para que acordaríamos e viveríamos então? Eles são assim por algum motivo. Se fosse para ser resolvidos, seriam de alguma maneira. Nossos problemas são maiores do que nós mesmos, então não há solução. O meu ato não passa de um anestésico para mim mesmo, para que eu possa deitar a cabeça tranquilamente no travesseiro e dormir, sem ouvir os gritos de desespero que o resto do mundo larga. A nós, só nos resta esperar em fila, na esteira, a hora do abate, assim como os animais que comemos no churrasco de domingo, um dia santo.

Nenhum comentário: