segunda-feira, janeiro 19, 2009

Difícil partitura

Poesia musicada

Com staccato e prolongamento

Sem tirar o pé do pedal

Cheia de semitons e acordes dissonantes

Pausa só se for tão breve como uma semicolcheia

Em compasso composto e em clave de Fá

A transição tem muitos bemóis e sustenidos

Clássica e Contemporânea

Um piano de calda

E o final é sempre ralentando...


.Leia-me como uma partitura.

domingo, janeiro 18, 2009

Canção do Yemen

O que me falta nesta vida
É que com ela você volte a brilhar
Com aquelas pequenas intrigas
Que eu passei o tempo todo a duvidar.

d'um pouquinho de mim
d'uma porção razoável de ti
um ciúmes sem direção
apontando à toda nação

que fosse se aproximar... de si.

quinta-feira, janeiro 08, 2009

A Procissão do Malandro.

Não se sabe bem se por acaso ou se por ironia
Mas quando ascendeu à nossa maestria
Uma menina chamada Justiça
Ninguém mais, à lei, desobedeceu.

A princípio ninguém percebeu,
Pois estavam todos comemorando o salto
De ter colocado no planalto
Uma mulher temente a deus.

Logo na manhã seguinte
A atendente da chefatura exclamou
Em um acertado palpite:
"Ao nosso telefone, ninguém ligou!"

Para variar, os céticos não acreditaram
Preferindo se mostrar contrariados;
Já os otimistas, enfim, vibraram:
"Estamos todos, ao sucesso, fadados!"

Engraçado é que no domingo era corrente
Na boca de toda gente
Que até mesmo no futebol
Nenhuma falta sucedeu.

Nos tribunais, sempre lotados,
Já não haviam advogados;
Os magistrados, por sua vez,
Não sentenciavam em altivez.

A nação inteira sorriu,
Pois no planalto já não havia burocracia:
Uma proeza digna de uma democracia
No imenso território do Brasil.

Mas como nada é perfeito,
Os canais de TV causaram defeito:
Não havendo mais noticias de desastre
Passaram a reportar receitas com tomate.

- Não havia mais fome no país!

Ainda que seja justo ter as regras para seguir
"Todas elas possuem uma exceção"
- Era o que dizia a população,
Quando um tal de Malandro, da cena do crime, tentou fugir.

Uma pessoa, em cento e oitenta milhões,
Fez toda a engrenagem burocrática rugir:
"Não se preocupem, meus irmãos,
pois desta situação, iremos todos sair."

A polícia, o Ministério Público,
O Poder judiciário, os advogados,
A Receita Federal, o Tesouro de Estado,
Todos juntos, a sorrir:
"Finalmente teremos uma função,
Qual seja, proteger o bom cidadão."

Até mesmo a antiga programação voltou ao ar,
Podíamos todos aguentar
O lindo casal do jornal
Nos apresentando os deslizes do marginal.

Mas não é que chegou o carnaval?
E com ele, o Malandro, exorcizado do mal,
Pode, enfim, a Justiça seguir.

O mesmo efeito teve sobre o povo de batina
Que pode, enfim, largar a menina,
E completar o doce ritual: agora o bem era o mal.

Quem não gostou nem um pouco disto
Foi a menina Justiça,
Criatura doce e mestiça
Que acabou com o carnaval.

Sob todos os protestos,
Fechou o congresso:
"Farei o que for certo,
Nem que do mundo reste nada!"
- Disse ela, em frente à esplanada.

Malandro, como somente ele podia,
Liderou a eleição com toda a alegria.
Foi até o planalto, e de assalto
Derrubou a menina Justiça, em nome da preguiça.
Estava feita a procissão.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Colos de pais

Pais,

Quantos ais ouvistes?
Quantos cais abristes?
Nada pode ser mais confortável do que os colos teus

Meus eus todos se encontram
Quando perto dos que os encantam

vôo rápido

Sinto que vou
Sinto que vôo
Sinto que vou-me
Atrás de ti nunca é rápido o bastante...

Pobre de mim

Se gritas, me afasto
Me largo, me perco
Te perco, me perdes

Me pedes, me eleges
Te aceito, sem jeito
Me queixo, te deixo

Se queres, me pedes
Se aceito, me deito
Te almejo, mas não assim

Pobre de mim...

Euforia e calmaria

Eu quero a felicidade desconhecida
Pois a que vi, já foi vista
E eu ando meio esquecida

Quero euforia e calmaria
Paciência e decência
Arrepio ao meio fio

Quero gritar sem ser ouvida
Ficar bêbada sem bebida
Te ter sem ser tua
E depois descansar de alma nua

E no final, te deixar
Para me amar, para me amar...

versos censurados

Somos como letras, versos
Poemas não ritmados
Como estrofes, desenhos rabiscados

Acho que somos o que ninguém viu
Tudo foi tão censurado
Textos não publicados

Amarrados pelo segredo
Pelo silêncio e pelo medo

Recita-me, publica-me
Faz de nós um outdoor
Por favor, suplico-te
Tudo em nome do bendito amor

Somos como música
Literatura de cordel
Teatro de rua, cinema mudo
Barquinho de papel...