terça-feira, novembro 29, 2005

Isa?

Um pedaço de papel dobrado em forma de flor chamou a atenção da garota. Ela parou por dois instantes, se pudessem contar eles. A flor estava pendurada por um barbante e balançava com o vento. Ela sorriu porque aquele movimento lembrava o que o vento representava para ela -- uma mudança cadencial.
Tinha sido vitima do mal entendido, ou do destino, não sabia direito. Tudo indicava que estava presa numa rede de acontecimentos que iam além da sua compreensão. Não tentou entender, apenas sorriu. Seus amigos tinham ido para onde ela deveria estar, mas o tempo andou mais rápido, impedindo que ela fizesse o mesmo. Deslocada, segurou a flor com um toque delicado, notando suas dobras macias e precisas. Um perfeito origami. “Sabe?” perguntou-se. “Não.”, respondeu-se. “Tanto faz.”
Entrou na loja e ficou olhando os livros nas prateleiras, afinal, era uma livraria. Não havia notado, estava muito distraída. O tempo tinha parado, mas não o suficiente para notar que as coisas ainda andavam ao seu redor. Pouco a pouco foi lendo as primeiras paginas dos livros com as capas mais coloridas. Com as letras mais amarelas. Gostava do amarelo. Mas ainda preferia o azul claro. Esses momentos de livre pensamento eram raros nos dias que passavam. Por mais que lia, não prestava atenção, apenas corria com os olhos pelas letras, pensando. “Pois é... a vida.” Sussurrou “palavra bonita: ‘sussurrou’, Tem uma grafia repetida de letras arrastadas”, pensou.
Atrás de garota surgiu sem ela perceber, um vulto. Ela se virou e, no escuro, esbarrou no atendente: “posso ajudar?”. Sua voz era gentil. De uma gentileza incomum dos dias de fast food. Uma gentileza que a fez pensar que existia ainda solução para o mundo, ou fosse apenas uma doce esperança que a atravessou quando estava muito reflexiva. Quem sabe? O importante é que acabou comprando o livro, só pra retribuir a gentileza. Nem sabia que livro era. Mas uma olhada na capa notou, era sobre o nada: “O nada que vem de tudo”, uma coletânea de contos de um escritor desconhecido “Arthur Schreiber”, “mas se não é o destino, é o que?!”, pensou.
Saiu da loja e foi-se esperar o termino do que deveria ter participado. Sentou num banco da praça, e à sombra de uma arvore sem nome, começou a ler o pequeno conto primeiro, sobre a simplicidade do nada e a complexidade de tudo. Um pouco confuso, mas de natureza sincera. O que mais a impressionava. A capa era azul clara e as letras pareciam de sorvete de papaya com cassis. Seu favorito.